segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Nos laços (fracos) da internet


Com a chegada da internet, houve uma revolução na humanidade. Rapidez e comodidade nas comunicações são alguns exemplos dos benefícios da rede. Os relacionamentos pessoais foram revistos. A web, ao encurtar distâncias, favoreceu, de certa forma, os relacionamentos sobretudo para pessoas tímidas ou cautelosas. O medo e a violência contribuem para que essa forma de comunicação alcance mais adeptos a cada dia.

Com uma audiência mensal de 29 milhões de pessoas, o Brasil se tornou líder no quesito redes sociais, como apontou a revista Veja na semana passada. Estamos voltando para as cavernas? A rede realmente ajuda os tímidos a se relacionarem? Ou é mais uma forma de clausura, comodismo, egoísmo e intolerância?

Esse exercício de convivência, que é o objetivo da vida, está cada vez mais distante, restrito a uma tela de computador. Medo de que? Medo de quem? De não ser aceito ou de não aceitar? De contestar ou de ser contestado? De conhecer o outro, de se conhecer ou de deixar-se conhecer? A resposta está dentro de nós e é bobagem tentarmos nos enganar.

Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós, quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece… (Clarice Lispector)

Era dos temores


Medo de sorrir, de chorar.
Medo de amar e não ser amado, de ser amado.
Medo de ficar solteiro, de casar.
Medo de ter filho, de não ter.
Medo de perder o emprego, de mudar de emprego, diante de um novo emprego.
Medo do dia, da noite.
Medo do escuro, da exposição, do ostracismo, da solidão.
Medo de cair, de levantar, de não dar conta, de ser capaz.
Medo do fracasso, do sucesso.
Medo dos outros, de si mesmo.
Medo de não sabermos quem somos, de descobrirmos quem somos.
Medo de nos enganarmos, de enganarmos o outro.
Medo de mudar, de permanecer o mesmo.
Medo de não ser aceito, de ser aceito.
Medo de confiar, de duvidar.
Medo de concordar, de discordar.
Medo de crescer, de paralisar.
Medo do futuro, do presente, do passado.
Medo de ser feliz, de ser infeliz.
Medo de amadurecer, envelhecer, morrer, viver.

Medo do conhecido, do desconhecido, ou do que achamos conhecido ou desconhecido – depende da perspectiva. O fato é que tememos sermos quem não somos ou sermos o que somos. De assumirmos nossa condição de humanos, imperfeitos, em busca de evolução. Pior do que não saber é não saber que se sabe ou não saber que não se sabe. A busca por autoconhecimento é um dos grandes desafios da jornada existencial e para isso é preciso humildade.

Para admitir o medo é preciso coragem. Quem faz o que muitos não fariam não é corajoso. Coragem é fazer aquilo que se tem medo, lutar contra os monstros que nós mesmos criamos e, traiçoeiramente, acusamos o outro como nosso carrasco. Lutar contra o que construímos e que não funciona mais. A vida não é para covardes. Por mais cruel que possa parecer esta verdade, ela nos revela que o medo que temos é o grande bicho-papão que nós mesmos criamos.

“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos ,na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.” (Carlos Drummond de Andrade)

Sabedoria cotidiana


Na agitação do dia-a-dia, na luta por um emprego, melhor oportunidade de trabalho, educação para os filhos, formação, acaba-se perdendo um tempo precioso para viver. Contraditoriamente, corremos, trabalhamos, nos esforçamos, adoecemos para ter uma vida melhor e ser feliz. Enfim, “planejamos uma vida melhor enquanto ela passa.” (John Lennon). Mas o que é felicidade?

Geralmente responsabilizamos fatores externos por nossa infelicidade: falta de emprego, amor, dinheiro, tempo... E, enquanto isso, não nos damos conta de que criamos nossos próprios demônios. Seja não nos assumindo, para não desagradar os outros, seja fazendo escolhas ou atos ruins – geralmente inconscientes –, para prejudicar a nós mesmos. Criamos o nosso próprio mundo, nossa Matrix, e nem nos damos conta.

Por falar e Matrix, lembro-me da cena em que Neo vai em busca do oráculo e, quando o encontra, ele é uma mulher, negra, pobre e de periferia. Nesse momento, caem os paradigmas e toma-se contato com a verdadeira sabedoria, que não se encaixa em nenhum estereótipo e não pode se aprendida em bancos de escolas.

Certa vez, fui à Pedreira Prado Lopes, aglomerado que fica na Região Noroeste de Belo Horizonte, entrevistar uma moradora; nem sei mais qual era o tema da matéria. Só sei que, para ir à casa dela, tive de passar pela “segurança”, dizer aonde estava indo. No final da entrevista, perguntei o que ela achava de morar lá. A resposta, dada com firmeza, serenidade e alegria, foi: “gosto muito. Aqui criei sete filhos, que são honestos e trabalham. Se tiver outra vida, quero nascer na Pedreira de novo.” Não me lembro do seu nome. Só guardei o sobrenome: Guerra.

Acredito que essa guerreira põe em prática o que é sabedoria, definida por Rubem Alves como “a arte de provar e degustar a alegria, quando ela vem. Mas só dominam essa arte aqueles que têm a graça da simplicidade. Porque a alegria só mora nas coisas simples”.

Fazer comunicação


O que é comunicar? A quem se destinam os meios de comunicação? Com qual objetivo foram criados? Como o ser humano é afetado por eles? Em meio à crise econômica, gripe suína e até a debates sobre a exposição de crianças na TV, o papel da mídia é, mais uma vez, questionado. Ou, pelo menos, deveria ser.

A informação, como qualquer outro produto, tem de ter qualidade. Para pensar a comunicação que queremos, foi criado o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – FNDC (www.fndc.org.br). A associação civil defende a comunicação como um direito de todos e luta pelo controle público das comunicações. Em outras palavras, dar à sociedade condições de escolher, opinar, acompanhar e monitorar a mídia.

Questionar a qualidade do que é veiculado... Primeiro veio a crise econômica mundial, com previsões catastróficas. Depois a gripe suína, que ganhou proporções da influenza espanhola, que dizimou cerca de 40 milhões de pessoas no início do século XX. Depois a indignação nacional diante das ofensas do apresentador Silvio Santos à menina Maísa, personagem criada pela televisão e que até então tinha total liberdade para falar o que pensava.

A questão não é o que informar, mas como informar, uma vez que comunicar é educar. Hoje em dia, as crianças, assim como Maísa, desde cedo são expostas à concorrência, à desumanização, que conta com grande influência dos meios de comunicação. Como as pessoas estão sendo formadas pela mídia?

Em meio à loucura provocada pela estressante agitação da sociedade moderna, muitas vezes não há tempo para questionarmos o conteúdo da mídia. Para ver como os seres humanos estão sendo formados por veículos como a televisão, babá a que muitos pais recorrem por falta de tempo, até para si mesmos.

Hoje em dia, mal dá tempo para se respirar. Em meio à enxurrada de tratamentos para estresse e depressão, temos que fazer curso para reaprender um ato que nascemos com ele: respirar. Não nos respeitamos, não nos conhecemos e, consequentemente, descumprimos o mandamento que diz “ama teu próximo como a ti mesmo”. Enfim, esquecemos a divindade que há em nós e as limitações do corpo, que é mortal.

Em meio a tanta correria, agimos antes de pensar e, com isso, não vemos as coisas como elas são; as vemos como nós somos. Alternativas como as apresentadas por Lou Marinoff no livro Mais Platão, Menos Prozac são um convite a sermos mais racionais, não deixando com que muitas vezes as emoções toldem o nosso raciocínio.

As reflexões apresentadas em Mais Platão, Menos Prozac levam a uma maior compreensão de nós mesmos e do outro. Mais tolerância com as limitações de todos nós, seres humanos, resultado de experiências individuais de crescimento – muitas vezes dolorosas – ao longo da vida e que muitas vezes geram um ato de extrema violência: a negação de nossa própria individualidade.

Apesar de cheio de hiperlinks, o texto acima se resume a falar da importância da comunicação: com nós mesmos e com o outro. Utilizando as mais diversas formas e meios: verbal, de sinais (Libras), impressa, televisiva, radiofônica, publicitária, artística e até o silêncio, para refletir sobre a vida. Afinal, comunicando é que a gente se entende.