segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Sabedoria cotidiana


Na agitação do dia-a-dia, na luta por um emprego, melhor oportunidade de trabalho, educação para os filhos, formação, acaba-se perdendo um tempo precioso para viver. Contraditoriamente, corremos, trabalhamos, nos esforçamos, adoecemos para ter uma vida melhor e ser feliz. Enfim, “planejamos uma vida melhor enquanto ela passa.” (John Lennon). Mas o que é felicidade?

Geralmente responsabilizamos fatores externos por nossa infelicidade: falta de emprego, amor, dinheiro, tempo... E, enquanto isso, não nos damos conta de que criamos nossos próprios demônios. Seja não nos assumindo, para não desagradar os outros, seja fazendo escolhas ou atos ruins – geralmente inconscientes –, para prejudicar a nós mesmos. Criamos o nosso próprio mundo, nossa Matrix, e nem nos damos conta.

Por falar e Matrix, lembro-me da cena em que Neo vai em busca do oráculo e, quando o encontra, ele é uma mulher, negra, pobre e de periferia. Nesse momento, caem os paradigmas e toma-se contato com a verdadeira sabedoria, que não se encaixa em nenhum estereótipo e não pode se aprendida em bancos de escolas.

Certa vez, fui à Pedreira Prado Lopes, aglomerado que fica na Região Noroeste de Belo Horizonte, entrevistar uma moradora; nem sei mais qual era o tema da matéria. Só sei que, para ir à casa dela, tive de passar pela “segurança”, dizer aonde estava indo. No final da entrevista, perguntei o que ela achava de morar lá. A resposta, dada com firmeza, serenidade e alegria, foi: “gosto muito. Aqui criei sete filhos, que são honestos e trabalham. Se tiver outra vida, quero nascer na Pedreira de novo.” Não me lembro do seu nome. Só guardei o sobrenome: Guerra.

Acredito que essa guerreira põe em prática o que é sabedoria, definida por Rubem Alves como “a arte de provar e degustar a alegria, quando ela vem. Mas só dominam essa arte aqueles que têm a graça da simplicidade. Porque a alegria só mora nas coisas simples”.

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